O terceiro homem
Pacheco Pereira, com a autoridade que se lhe reconhece nestes domínios da História política, escreve na sua recente crónica sobre “os dois homens mais perigosos no mundo” – e é indiscutível que Putin e Trump são, os dois, digamos assim, paradigmas dos movimentos histórico-sociais que se aceleram no presente ciclo da vida mundial, nesta época de guerras e incertezas.
Mas eu atrevo-me a identificar um terceiro homem que não pode ser desprezado e representa um perigo enorme pelo conflito em que está envolvido, que ele próprio alimenta – Netanyahu.
Responsável por um crescente anti-semitismo que se alastra a todo o mundo, Netanyahu, com a guerra de genocídio que está a travar, o conflito latente com o Irão e a hipocrisia dos grandes países árabes, pode estar no centro da gestação duma guerra que deixará de ser regional para ser mundial e que vai mexer com os dois outros homens indicados, Putin e Trump.
Netanyahu e os que o acompanham, com o apoio embaraçado dos EUA, põem em xeque todos os judeus que não são sionistas e não se revêem nas acções deste grupo que governa hoje Israel. Netanyahu poderá ser considerado o terceiro homem mais perigoso do mundo.
Fernando Santos Pessoa, Faro
Os “valores europeus”
O ministro Nuno Melo, eurodeputado durante 15 anos, declarou (SIC Notícias, 2/6/24): “Tudo aquilo que mais afecta a nossa vida acontece em Bruxelas e Estrasburgo. Mais do que na nossa Assembleia da República.”
Orgulhosa afirmação de subserviência lusa, de que muitos governantes do “arco do poder” comungam. E como na União Europeia (UE) quem manda é a Comissão Europeia (CE), nomeada pelo Conselho Europeu (CE) e não eleita pelos deputados europeus, estamos conversados sobre a democracia do processo.
Para disfarçar, a UE monta uma encenação de “eleições” para a presidência do CE, com spitzenkandidaten (designação alemã de “principais candidatos”) que fazem debates e discursos, como se fosse a sério.
Este ano, Ursula Von der Leyen até “concorre”, esquecida de que nas últimas “eleições” foi nomeada presidente sem sequer ter integrado o grupo de candidatos ao cargo, deixando todos, nomeadamente o “à frente nas sondagens”, a falar para o boneco.
Ursula foi tirada da manga para satisfazer a extrema-direita do Leste (a que agora se alia), passando a perna aos “principais candidatos”, que ficaram a chuchar no dedo. São esses “os nossos valores” democráticos que a UE defende com armas, para alegria da indústria de falcões dos EUA.
Jorge F. Seabra, Coimbra
Ainda a língua portuguesa
Há bem poucos dias, e a propósito das declarações de Paulo Rangel, ora ministro dos Negócios Estrangeiros, sobre a língua portuguesa, escrevi uma breve carta ao director deste jornal comentando as referidas declarações e contando o episódio a que assisti em Bissau quando um membro do governo se referiu à falta de professores, ao consequente decréscimo do uso da língua e ao pouco interesse do governo de Portugal pelo assunto.
Uma vez que a minha carta não colheu acolhimento nos critérios redactoriais, e sendo minha convicção tratar-se de assunto de interesse nacional, venho agora, resguardado pelo apelo do premiado realizador guineense Sana Na N’Hada, que alerta para o desaparecimento da língua e apela ao envio de professores como forma de reparação colonial, repetir o meu público pedido ao novo ministro para que não perca tempo e aja em conformidade com este país irmão antes que seja tarde.
José Manuel Pavão, Porto
Entre o dinheiro ganho e a indemnização
As notícias são quase contemporâneas. Uma vinda do cardeal Américo Aguiar, a outra do editorial de Andreia Sanches no PÚBLICO de domingo. A primeira diz-nos que a Igreja Católica ganhou, líquidos, 35 milhões de euros com a Jornada Mundial da Juventude; a segunda, que o dia 1 de Junho iniciou a formalização dos pedidos de indemnização eventualmente reivindicados pelas vítimas de abusos sexuais na mesma Igreja. O que me dizem ambas? Que a Igreja Católica continua a “ganhar que se farta” e que é preciso estarmos atentos ao que ela vai fazer – e aqui, já lá vamos – respectivamente. Porquê? Porque a avaliação vai ser feita pelo grupo Vita, mas, sobretudo, pelas “comissões diocesanas de protecção de menores”, que são uma espécie de “raposa que guarda o galinheiro”, já que as há no âmbito civil e bastavam estas, ou voltamos a ter de repetir que os abusos são crimes e só acessoriamente pecados? Finalmente uma sugestão, resultante das duas notícias anteriores: porque não aproveitar os milhões ganhos para ressarcir – embora nunca o possam conseguir – “pagando” parte do mal que fizeram aos meninos?
Fernando Cardoso Rodrigues, Porto