“Durante os trabalhos no âmbito da empreitada de construção dos troços entre a futura Estação de Santos e o término da Estação Cais do Sodré (Linha Circular), ocorreu um curto-circuito proveniente de uma manobra de cablagem, que subsequentemente causou a deflagração de incêndio na Subestação de Tracção do Cais do Sodré [na linha de Cascais].” De acordo com uma avaliação preliminar da IP – Infra-Estruturas de Portugal, foi este o motivo que levou à inutilização da subestação do Cais do Sodré no passado dia 19 de Março, fazendo com que o serviço funcione de forma degradada desde então.
Ainda de acordo com a IP, o incêndio provocou avarias em diversos equipamentos da catenária, energia e sinalização.
A gestora de infra-estruturas diz que “neste momento não é possível fornecer um prazo rigoroso [para a reposição normal do serviço], uma vez que ainda decorre a fase de avaliação detalhada dos danos”, pelo que “oportunamente será emitido um plano de acção”.
Desde a semana passada que entre Algés e Lisboa só circulam comboios de dez em dez minutos (seis por hora) quando em situação normal havia dez por hora.
As subestações de tracção eléctrica (normalmente designadas apenas por “subestações”) são instalações situadas ao longo da via-férrea que transformam a energia eléctrica de alta tensão distribuindo-a para um determinado troço. A linha de Cascais tem subestações em Cais do Sodré, Belém, Cruz Quebrada, Paço de Arcos, Carcavelos e São Pedro. São muitas: seis para apenas 26 quilómetros de linha dupla, mas isso explica-se por esta linha funcionar com 1500 volts em corrente contínua, uma especificidade que não tem paralelo na “rede geral”, em que as linhas funcionam com 25 mil volts em corrente alternada. Por isso, após a modernização em curso na linha de Cascais, o número de subestações será reduzido para apenas uma.
Como estes equipamentos funcionam de forma integrada, assegurando assim a redundância em caso de inoperacionalidade, passaram a ser as subestações de Belém e Cruz Quebrada a fornecer energia eléctrica ao troço que era alimentado pela do Cais do Sodré após o incêndio.
A IP demorou nove horas a fazê-lo e durante esse período o serviço ferroviário ficou interrompido entre Cais do Sodré e Algés, apesar de mitigado por um reforço da oferta da Carris naquele eixo. A empresa explica que foi necessário proceder ao isolamento eléctrico da subestação acidentada, reparar a catenária, repor a energia no sistema de sinalização e na passagem de nível de Santos.
No entanto, teria sido possível reintroduzir o serviço mais cedo, ainda que de modo degradado, pois a regulamentação ferroviária tem soluções para que os comboios circulem mesmo na ausência de sinalização automática. Os regimes de bastão-piloto ou de cantonamento telefónico, por exemplo, permitiriam manter os comboios a funcionar, bastando guarnecer a estação de Algés com um funcionário. Trata-se de sistemas antigos, mas que são seguros e resultam em situações de emergência. Na IP, contudo, escasseia memória, pessoal e conhecimento sobre estes procedimentos, bem como treinos do pessoal para lidar com situações deste tipo por forma a minimizar circunstâncias deste tipo que afectam os passageiros.